José Victor Costa

Natural de Vila Franca do Campo, antiga capital da ilha de São Miguel, José Victor Costa é um artesão autodidata que vai buscar inspiração para as suas peças ao mar dos Açores. Antes de se dedicar ao artesanato, José já era pescador, profissão que exerce há cerca de duas décadas. Anteriormente, trabalhou na construção civil desde os 12 anos, tendo emigrado por duas vezes em busca de melhores condições de vida. A primeira vez que emigrou foi para os Estados Unidos, país onde viveu cerca de um ano e meio até regressar a São Miguel. Cerca de uma década depois, voltou a emigrar, desta vez para as Bermudas, onde um quarto da população possui ascendência portuguesa, sendo a esmagadora maioria oriunda dos Açores ou descendente de açorianos. Durante um ano e meio, José viveu e trabalhou neste arquipélago do Atlântico Norte, composto por ilhas e recifes de coral, até decidir voltar à sua ilha natal. Pouco tempo depois do regresso a Vila Franca do Campo, José iniciou-se nas lides da pesca e, oito anos volvidos, tirou o 6º ano de escolaridade para obter a carta de mestre de arrasto de pesca local. Chegou a ter o seu próprio barco durante algum tempo, mas acabou por se desfazer do mesmo e prosseguir a carreira de pescador por conta de outrem. Há 5 anos, o artesanato apareceu na sua vida de forma inesperada. Após fazer uma baleia e um golfinho em madeira, com o intuito de oferecer às irmãs que regressavam dos Estados Unidos, José foi tomar um café e levou as peças consigo, as quais despertaram o interesse de um amigo que se ofereceu para as comprar. José pensou: “Sei fazer as peças, mas não sei fazer o dinheiro”, e vendeu os seus primeiros trabalhos. “A seguir ao almoço, vim para baixo e, em vez de duas peças, fiz quatro. Vendi. Depois fiz dez, tornei a vender. Depois fiz vinte, cinquenta, e nunca mais parei”, diz José Victor Costa, acrescentando: “Abençoada a hora que me dediquei ao artesanato!”.

Tendo começado por pintar as suas peças, “com as cores naturais dos animais”, José foi, certo dia, alertado por um profissional de turismo para o facto de a pintura “esconder a beleza da madeira”, referindo-se à madeira de criptoméria, a espécie mais representada na floresta da ilha de São Miguel. Sugeriu que usasse verniz em vez de tinta, e José seguiu a sugestão. “O resultado é o que está à vista”, diz o artesão, apontando para a mesa montada em frente à sua oficina no Porto de Pesca de Vila Franca do Campo. Feitas em madeira de criptoméria, as peças assentam numa base de rocha vulcânica, outra matéria-prima abundante na maior ilha do arquipélago dos Açores. Tanto a madeira como o basalto são reutilizados, sendo oferecidos por amigos e familiares que trabalham em construções. Com matéria-prima da terra, José Victor Costa cria algumas das espécies que frequentam as águas dos Açores, com especial destaque para o cachalote, uma espécie icónica do arquipélago. Faz também golfinhos, espadartes, espadins, jamantas – estas em contraplacado marítimo – e atuns. “A inspiração das peças vem da minha vida profissional que é a pesca”, revela, concluindo: “Não é preciso ir à Internet!”.

Além das caudas de baleia, uma das peças com mais saída, também faz barquinhos à vela, âncoras e até pequenos porta-chaves. Segundo José Victor Costa, “todo o material pequeno é o que tem mais saída”, já que “99,9% dos clientes são estrangeiros”, cujas malas de viagem têm limitações de peso e volume. “Uso o inglês que aprendi na América e nas Bermudas”, diz, antes de enumerar uma longa lista de nacionalidades que já compraram as suas esculturas. “Costumo dizer que só não tenho peças no Polo Norte e no Polo Sul”, diz o artesão e pescador.

Atualmente, José Victor Costa dedica-se ao artesanato “das 6h até ao anoitecer”, depois vai pescar até cerca das 22h, e quando regressa do mar, lixa e enverniza as peças para estarem prontas para vender no dia seguinte. “Folgas? Só quando fico doente, aqui não há feriados, fins de semana, dias santos… o turista não tem feriados!”, diz, antes de atender mais um cliente. Tendo demorado 46 anos para descobrir a sua vocação, José Victor Costa apenas quer continuar a criar peças intimamente ligadas à história dos Açores.

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