Albino Martins

Nascido em Santa Cruz, em 1949, Albino Martins viveu praticamente toda a sua vida nesta localidade do concelho de Torres Vedras. "Cresci na praia. O meu avô era banheiro, o meu pai também e eu segui-lhes as pisadas", diz Albino que, aos 7 anos, já ajudava o pai a montar as barracas, atando às estruturas de madeira os cordões dos panos, feitos pela mãe. Por essa altura, aprendeu a nadar na Praia Formosa e foi lá que fez o seu primeiro salvamento. Tinha 13 anos quando socorreu uma mulher que se encontrava em apuros no mar, aplicando as técnicas de salvamento que o pai lhe havia ensinado. Foi o primeiro de muitos salvamentos. Três anos depois, em 1965, tornou-se nadador-salvador, após tirar a cédula marítima. "Naquela altura tínhamos de ir a Peniche. Fazíamos uma demonstração no cais e o capitão do porto ou um subordinado dizia se estávamos ou não aptos", recorda Albino, hoje com 73 anos. "Dei umas braçadas e perguntei-lhe se podia passar por baixo de uma traineira. ‘Não me digas que és capaz?’ Então mergulhei e ele disse-me. ‘Vai-te embora que já sabes muito!’". A partir daí, Albino passou a trabalhar como nadador-salvador na Praia de Santa Helena, que à época se chamava Praia do Centro, da qual os seus pais eram responsáveis pela concessão.

Estando a atividade de nadador-salvador condicionada pela sazonalidade da época balnear, Albino tinha de procurar um novo emprego depois de cada verão, para depois o abandonar no início do verão seguinte. Trabalhou na construção civil, na agricultura e, mais tarde, chegou a ter um barco durante quatro anos, com o qual pescava entre Peniche e Cascais. Por volta de 1983, o pai de Albino, Custódio Banheiro, uma pessoa “muito conhecida em Santa Cruz”, decidiu retirar-se e deixar a nova geração liderar o negócio. Albino abriu um bar, o Onda Bar, e assumiu a concessão da praia que viria a rebatizar alguns anos depois. "No tempo do meu pai, era a Praia do Centro, mas depois esse nome passou para outra zona. Quando fui tirar as licenças anuais da concessão, o comandante da capitania chamou-me e pediu-me ajuda para batizar a praia. Lembrei-me da capela de Santa Helena que há aqui em cima e de uma rocha com esse nome e assim ficou: Praia de Santa Helena". Entre as “dezenas de salvamentos” que fez nesta praia, Albino destaca “o mais difícil”, quando tinha 19 anos. “Fui buscar um senhor aí a uns 200 metros da costa, com o mar bastante bravo. O meu pai tinha nadadores-salvadores, já velhotes, e eles tiveram medo de o ir buscar. Quando cheguei perto do náufrago já estava bastante cansado. Ele ora aparecia, ora desaparecia no meio das vagas. Quando já só lhe via o cabelo, fiz uma última tentativa e agarrei-o pelos cabelos”, recorda, acrescentando: “Trouxe-o para a praia e estava aqui um jornalista que publicou uma notícia cujo título era ‘Ao menos obrigado’, porque o homem nem me agradeceu”.

Após terminar a carreira de nadador-salvador, aos 45 anos, continuou como concessionário da Praia de Santa Helena até 2019, tendo sido responsável por várias equipas de nadadores-salvadores. Um deles foi o seu filho Pedro, que Albino considera ter sido “o melhor nadador-salvador que tive, e não o digo por ser pai dele”. Com o mesmo orgulho com que fala de Pedro, Albino fala sobre as suas duas filhas, Marisa e Ana Luísa, e sobre a neta, de nove anos, que “parece um peixe a nadar”. “Já lhe disse que quando tiver 14, 15 anos, o avô se cá tiver vai levá-la a umas rochas na Praia Azul que estão recheadas de polvos, navalheiras, sargos, safios…”, diz Albino sobre a sua vontade de partilhar a paixão pela pesca submarina, que praticou durante muitos anos, com a neta Clara.

A história de Albino Martins não poderia ficar completa sem falar da sua ligação à música. Numa altura em que o acordeão era o instrumento mais popular entre os seus amigos, Albino começou a tocar guitarra. A música folclórica não o seduzia tanto como aquilo que ouvia nos discos que comprava em Torres Vedras. De Beatles a Roberto Carlos, passando por Creedance Clearwater Revival, Percy Sledge e Sheiks. A paixão pela música levou a que fizesse parte dos “melhores grupos aqui da zona daquela altura, como a Banda Abel Alves, onde estive 5 anos”. Quando se cansou de tocar guitarra, passou para as teclas, instrumento que toca há cerca de trinta anos. Atualmente, integra a banda DuOeste Band como teclista e cantor.

No dia em que o encontrámos em Santa Cruz, Albino Martins preparava-se para começar a desmontar as barracas, após o fecho de mais uma época balnear. Apesar de já não ser o concessionário, continua a montar e desmontar as barracas no início e no fim de cada época balnear, a pedido do atual proprietário da concessão. Antes de dar início ao trabalho, Albino pegou na guitarra e cantou uma música da sua autoria que fala sobre Santa Cruz, ou melhor, Santa Cruz de Ribamar, como em tempos se chamou esta “terra cheia de encantos”, nas palavras de Albino. O refrão da música, “Santa Cruz de Ribamar/Santa Cruz a minha praia/ Mar azul, areias de ouro, ondas brancas de cambraia”, diz muito sobre o sentimento que une Albino Martins a Santa Cruz.

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