José Manuel Lourenço

José Manuel Lourenço é um artesão que gosta de primar pela diferença. Na sua oficina em Caneira Nova, concelho de Mafra, José faz caixas. Dito assim, parece fácil, mas a verdade é que as suas caixas são tudo menos simples e banais. “Caixas com Amor e Arte” foi o nome escolhido por José para designar o seu trabalho artesanal que, como o nome indica, “é feito com muito amor, usando uma arte muito antiga de trabalhar a madeira, os embutidos”. O resultado deste binómio – amor e arte – são muito mais do que caixas. “Não faço caixas, faço cartas de amor”, diz José, sob a forma de metáfora. À visão romântica do criador, acrescentamos a nossa humilde opinião: as caixas de José Manuel Lourenço são verdadeiras obras de arte.

Ao observarmos as peças, repletas de detalhes e segredos, somos levados a pensar que José dedicou toda a sua vida a aprimorar esta arte. Contudo, foi apenas há cinco anos que fez a sua primeira caixa. Um problema de saúde deixou-o paralisado da cintura para baixo durante várias semanas, mas a mente manteve-se ativa. José idealizou uma caixa para oferecer à sua esposa como prenda de aniversário de casamento e, passado pouco tempo, construiu a sua primeira “carta de amor”. A peça foi vista por algumas pessoas próximas que, desde logo, o incentivaram a mostrar a sua arte ao mundo. Foi assim que nasceu “Caixas com Amor e Arte”, o projeto pessoal ao qual José se dedicou desde então. Para trás ficaram mais de trinta anos como técnico de eletrónica, especialização que tirou na Escola Militar de Electromecânica, onde fez o curso de Oficiais.

“Como é que se abre esta caixa?”, pergunta José, enquanto coloca uma caixa sem qualquer fechadura ou dobradiça à nossa frente. As fechaduras invisíveis são uma das particularidades das suas caixas, sendo também o primeiro de uma sequência de enigmas cuja resolução permite abrir os vários compartimentos secretos que cada caixa contém. À medida que vai pressionando pequenos botões dissimulados na madeira, vão-se abrindo gavetas, como por magia, diante dos nossos olhos. Feitas em madeiras exóticas, de diversas cores e texturas, as caixas escondem um complexo sistema magneto-mecânico no seu interior. José aliou a sua vasta experiência como técnico de eletrónica à arte da marcenaria, que desenvolveu como autodidata, e o resultado está à vista. Por trás da arte e do engenho de cada caixa, existe uma fórmula baseada em quatro princípios que, na opinião de José, são essenciais para o sucesso de qualquer relação. “Comecei este trabalho como expressão de sentimentos a um ser que muito amo. Amar alguém verdadeiramente é gostar do que o olhos veem (beleza exterior); gostar do que toca o coração (beleza interior); gostar dos sentimentos que nos transmite (e que tocam a nossa alma); gostar de a cada dia ter algo a descobrir (o que desperta a mente). Assim, tento em cada trabalho transmitir: beleza exterior através do encanto da madeira embutida; beleza interior através da imagem decorativa; sentimento através da metáfora que a imagem representa; mistério e descoberta através dos segredos e mecanismos”. Como se não bastassem os talentos já referidos, José também faz todos os desenhos à mão, os quais transmitem mensagens de “entendimento, partilha de sentimentos e amor verdadeiro”. O reconhecimento do seu valor enquanto artesão aconteceu há três anos, quando ganhou o 1º prémio na categoria de melhor peça de artesanato contemporâneo na FIA – Feira Internacional de Lisboa. “Não vejo isto como uma profissão, vejo isto como uma paixão”, diz, com um sorriso que transparece a sua essência, à imagem das suas caixas.

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