Jorge Costa

Talhada manualmente em madeira de pinho, a colher de pau é um ícone cultural do concelho de Arganil. Esta ferramenta de culinária, com tradição na preparação de muitos pratos regionais, é feita desde tempos imemoriais na freguesia de Benfeita, em particular na aldeia de Pardieiros. “Quando comecei a fazer colheres, em Pardieiros, era porta sim, porta sim, tudo a fazer colheres, eram mais de trinta artesãos”, quem o diz é Jorge Costa, o último artesão de colheres de pau, a tempo inteiro, do concelho de Arganil.

Jorge Costa começou a fazer colheres de pau aos onze anos, já lá vão mais de cinquenta. Apesar de ter tido outras ocupações, que incluíram uma passagem por Lisboa, onde trabalhou cerca de um ano, Jorge Costa nunca esteve muito tempo afastado de Pardieiros e das colheres de pau. Na sua oficina, totalmente reconstruída após um incêndio devastador em 2017, o artesão utiliza apenas quatro ferramentas para criar as famosas colheres de pau: machada, enxó, faca e legre. “Não utilizo nenhuma máquina para fazer uma colher”, diz Jorge Costa, que apenas usa a plaina elétrica para fazer garfos, facas ou espátulas. Apesar de manusear as ferramentas com uma destreza impressionante, já feriu as mãos inúmeras vezes nas suas lâminas afiadas, algumas delas com muita gravidade. Nada que não se tenha resolvido com um curativo improvisado, até porque, segundo Jorge Costa: “Carne de cão, aos três dias está são”.

Quando não está a fazer colheres na sua oficina em Pardieiros, Jorge Costa anda pelo país, participando em feiras de artesanato de norte a sul, a vender os seus produtos e a divulgar o artesanato mais genuíno do concelho de Arganil. “Sempre tive gosto em fazer isto”, diz Jorge Costa, enquanto escava a concha da colher com a legre. Enquanto depender de Jorge Costa, a arte de fazer colheres de pau vai continuar viva. Quando deixar de depender, provavelmente morrerá. Parece demasiada responsabilidade para um homem só, mas Jorge Costa vive bem com isso: “Faço o que quero, o que me apetece e ainda me sobra tempo”.

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