Manuel Carloto
Natural de Rocha Forte, uma aldeia do concelho do Cadaval, Manuel Carloto já sabia cortar pedra de calçada portuguesa quando, aos 16 anos, decidiu seguir as pisadas do pai e tornar-se cortador de pedra de calçada. “Nas férias de verão ia para a pedreira com o meu pai e comecei a aprender a trabalhar a pedra”, diz Manuel Carloto sobre o início da sua relação com o calcário e o basalto, os tipos de pedra mais utilizados na construção da calçada portuguesa. Durante 25 anos, Manuel Carloto transformou blocos de pedra em cubos de calçada, que foram posteriormente utilizados por calceteiros na construção do mosaico português, ou calçada portuguesa, como é mais conhecido um dos maiores símbolos de Portugal.
Sensivelmente a meio deste percurso, em 1998, Manuel Carloto viu um trabalho que despertou o seu interesse para uma arte desconhecida por muita gente: a arte de tesselário. Esta arte decorativa, que consiste na preparação, composição e montagem de mosaicos, combinando tesselas – fragmentos de pedra – tem as suas raízes no século II, em pleno Império Romano. Antes de se iniciar “mais a sério” como tesselário, Manuel Carloto fez várias pesquisas na Internet sobre esta arte e visitou, algumas vezes, as Ruínas de Conímbriga para ver com os próprios olhos os mosaicos de tessela romana que sobreviveram até aos nossos dias. Habituado a cortar pedra de calçada desde tenra idade, Manuel Carloto apenas teve de reduzir o tamanho dos cubos. “Tentei sempre aperfeiçoar-me até chegar a pedras de meio centímetro”, diz, enquanto mostra a peça que lhe “deu mais gozo fazer”, o mosaico del Casale, uma réplica de um mosaico do século II, existente numa villa romana na Sicília.
Com apenas um martelo, uma bigorna e cola para pedra, Manuel Carloto criou, ao longo dos últimos vinte anos, inúmeras peças com os mais variados temas, desde arte sacra até reproduções de mosaicos bizantinos ancestrais e de esboços de artistas contemporâneos. Algumas destas peças têm mais de dez mil pedras, trabalhadas uma a uma, à mão. “São trabalhos que exigem muito tempo, muita dedicação, mas depois quando os vemos na casa do cliente ou nas mãos do cliente, ficamos muito felizes porque está um pouco de nós no trabalho”, diz, acrescentando que já recebeu encomendas do Canadá, Estados Unidos, Alemanha ou França. Quando em 2004 se dirigiu ao Centro de Formação Profissional para o Artesanato e Património, em Coimbra, para tirar a carta de artesão tesselário, esta foi-lhe recusada “porque essa arte ainda não era reconhecida em Portugal”. No entanto, seis meses depois, a carta foi criada e Manuel Carloto tornou-se o único artesão em Portugal a trabalhar em tessela romana. No decurso dos anos, participou em várias feiras do artesanato e fez algumas exposições até que, em 2014, começou a construir a sua própria galeria na aldeia de Portela, concelho do Bombarral. A Oficina da Pedra, como Manuel Carloto lhe chamou, é uma galeria de arte feita em pedra – calcário, granito e mármore – e recheada com as obras do único tesselário português. Entre as muitas obras de arte dispostas ao longo da galeria, existem várias reproduções de mosaicos presentes em Conímbriga, como um centauro marinho ou o Labirinto do Minotauro.
Depois de trabalhar a pedra de calçada durante 25 anos, Manuel Carloto decidiu dar um novo rumo à sua vida e, há 5 anos, abriu uma empresa de jardinagem. Trocou a dureza das pedras pela fragilidade das plantas, mas não deixou de se dedicar à arte que escolheu e pratica há cerca de 20 anos. Apesar de atualmente apenas fazer peças por encomenda, Manuel Carloto mantém a sua galeria aberta para visitas, mediante marcação prévia. Desde o mosaico del Casale até pequenas peças, como presépios ou tabuleiros de xadrez, a Oficina da Pedra tem peças para todos os gostos e carteiras. Quem a visitar, poderá ficar a conhecer uma arte decorativa milenar, assim como o único representante da mesma em Portugal.