Narciso Cordeiro
Filho e neto de ferreiros, Narciso Cordeiro herdou o gosto pela arte de forjar o ferro. Natural de Mendiga, uma aldeia integrada no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, Narciso tinha 12 anos quando se iniciou no ofício de ferreiro, ajudando o pai na oficina da família. Os sete anos seguintes foram passados a trabalhar o ferro até que, aos 19 anos, decidiu ir trabalhar com um dos quatro irmãos em caixilharia de alumínio.
Quando o pai faleceu, Narciso foi incentivado por pessoas que sabiam da sua experiência como ferreiro a continuar o legado da família. Assim, quase 20 anos após se ter afastado da forja, Narciso Cordeiro voltou a abraçar esta arte milenar. Nunca deixando de trabalhar a tempo inteiro com o irmão, passou a dedicar um sábado por mês ao trabalho de ferreiro. Face à crescente industrialização, este ofício foi sendo gradualmente substituído por máquinas e, como tal, o volume de trabalho não justificava mais do que uma jornada de trabalho mensal.
Passados 20 anos, Narciso Cordeiro continua a trabalhar regularmente na oficina familiar onde o ferro é forjado há três gerações. Foi lá que nos recebeu para falar sobre o seu percurso de vida enquanto fazia martelos utilizados para a extração de pedra calcária da Serra de Aire e Candeeiros, importante ponto de extração deste tipo de pedra, que dá origem à calçada portuguesa. Apesar de também fazer picadeiras para construção civil ou enxadas para agricultura, os martelos são as peças com mais saída. Na opinião de Narciso Cordeiro, o papel do ferreiro como “parte integrante” do processo de construção da calçada portuguesa merecia um maior reconhecimento por parte do município de Porto de Mós. “Sem o martelo não são capazes de cortar a calçada”, diz Narciso com um sorriso.
Devido ao alargamento das instalações da oficina de caixilharia de alumínio, que irão ocupar o espaço atualmente utilizado para trabalhar o ferro, Narciso Cordeiro não fará muitos mais martelos com duas estrelas, a marca da casa que forja em cada martelo. Quando se retirar, deixará um vazio difícil de ser preenchido, já que é atualmente o único ferreiro do município em atividade.